Saúde Mental e Maternidade/Perinatal: Foco em depressão pós-parto, luto gestacional e a pressão sobre a mãe perfeita
Maternidade e vulnerabilidade emocional: por que precisamos falar disso
Desde o início, a maternidade costuma ser romantizada como uma etapa de plenitude, alegria e realização. Entretanto, a experiência real pode envolver dores intensas, transformações profundas e desequilíbrios psíquicos.
Por isso, é essencial reconhecer que gestar, parir e cuidar de um bebê não é automaticamente garantir felicidade — há fragilidades, perdas, lutos, ansiedades e sofrimento que precisam de acolhimento.
Adicionalmente, a cultura da “mãe perfeita” — imagem social da mulher que “dá conta de tudo” sem fraquejar — funciona como um véu que envenena o que deveria ser cuidado com sensibilidade. Esse ideal muitas vezes silencia dores, mascarando sofrimentos que, se não atendidos, podem evoluir para transtornos psiquiátricos sérios.
Nesse contexto, falar de saúde mental perinatal — incluindo depressão pós-parto e luto gestacional — deixa de ser um tabu para se tornar uma urgência de cuidado coletivo.
Panorama no Brasil: dados e fatores de risco
Prevalência e variabilidade da depressão pós-parto
- Uma revisão integrativa nacional aponta que a prevalência de depressão pós-parto (DPP) varia bastante conforme região, entre 7,2% e 39,4%. Revista RDP
- Em um estudo específico feito em um hospital público em Salvador-BA, por exemplo, cerca de 19,8% das puérperas tiveram suspeita de DPP. Febrasgo+1
- Outro estudo recente, que analisou mulheres de um programa de transferência de renda ao longo de dois anos pós-parto, mostra que a DPP pode se prolongar e persistir de forma crônica nesse período. Repositório da Produção USP
Fatores de risco associados
Diversos fatores — biológicos, sociais e contextuais — aumentam a vulnerabilidade à DPP no Brasil, de acordo com a literatura: histórico prévio de transtorno mental, baixa renda, gravidez não planejada, multiparidade, falta de apoio social, conflitos conjugais, violência durante a gestação ou parto, dentre outros. Revista RDP+2Portal de Revistas da USP+2
Contextos recentes que agravam a vulnerabilidade
Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, um estudo nacional identificou níveis elevados de sintomas de depressão e ansiedade entre mulheres puérperas — evidenciando como crises externas podem intensificar vulnerabilidades perinatais. Redalyc
Além disso, há evidências de que o estresse gestacional predispõe a quadros depressivos no pós-parto. Um estudo longitudinal correlacionou sintomas de estresse no terceiro trimestre com maior incidência de depressão nas semanas pós-parto. Febrasgo
Esses dados demonstram que a DPP não é uma questão marginal — é prevalente, recorrente e multifatorial, exigindo atenção sistemática de saúde mental e de políticas públicas.
Evidência internacional: compreendendo o fenômeno global
Para além do Brasil, diversos estudos internacionais ajudam a ampliar a compreensão sobre depressão pós-parto e o impacto da experiência perinatal sobre a saúde mental da mulher. Aqui vão três exemplos representativos:
- A coorte IGEDEPP cohort, realizada na Europa, acompanhou 3.310 mulheres entre 2011 e 2016, com seguimento até um ano pós-parto. Ela apontou incidência de depressão pós-parto de 18,1% no primeiro ano após o parto. arXiv+1
- Uma revisão recente internacional publicada em 2023 — Gravidez e depressão pós-parto (2023) — mapearam fatores de risco e padrões epidemiológicos da DPP em diferentes contextos culturais e socioeconômicos. revista.ismt.pt
- Outro estudo de coorte, o IGEDP cohort (parte do IGEDEPP), analisou a relação entre estressores ambientais, história familiar, eventos traumáticos pré-natais e a ocorrência de DPP, reforçando a visão de que depressão pós-parto não é apenas “normal” ou “passageira”: muitos casos persistem por meses e demandam intervenção. arXiv
Esses estudos internacionais mostram que, mesmo em contextos sociais e econômicos diferentes, a maternidade carrega riscos psíquicos significativos — o que reforça a universalidade da necessidade de apoio psicológico perinatal.
Cinco notícias recentes em português que evidenciam a urgência do tema
- Em 2024, reportagem intitulada Solidão e culpa: uma em cada 4 gestantes sofre de depressão pós-parto destacou que, segundo dados de uma grande pesquisa nacional, cerca de 26,3% das gestantes apresentaram sintomas de depressão após o parto. Metrópoles
- Em 2025, notícia da CNN Brasil revelou que recentes achados neurocientíficos identificaram alterações cerebrais em áreas de emoção e estresse (amígdala e hipocampo) em mulheres que desenvolveram depressão pós-parto — sugerindo bases biológicas e neurológicas para o sofrimento. CNN Brasil
- Outra reportagem, do portal Drauzio Varella, abordou a depressão pós-parto como um transtorno que “afeta mãe e bebê e precisa de tratamento”, enfatizando que muitas vezes os sintomas são confundidos com a exaustão normal do pós-parto. Drauzio Varella
- Em 2025, a sanção da Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental no Brasil foi destacada pela imprensa. A lei reconhece formalmente o direito ao acolhimento de pessoas que passam por perdas gestacionais — aborto espontâneo, natimorto ou outras formas de perda — legitimando o luto gestacional como tema de saúde pública. Folha PE
- Uma matéria da revista Saúde Pública de 2025 — parte do estudo Nascer no Brasil II — trouxe dados recentes mostrando a frequência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático entre mulheres no pós-parto no estado do Rio de Janeiro, reforçando a necessidade de atenção à saúde mental no puerpério. RSP FSP USP+1
Essas reportagens ajudam a dar visibilidade pública à urgência do cuidado com a saúde mental perinatal, mostrando que o tema vai muito além de dramas individuais — é uma questão social e de saúde coletiva.
Luto gestacional e a dor invisível: por que falar de perdas na gestação
Muitas vezes, a maternidade esperada não se realiza. Perdas durante a gestação — abortos espontâneos, natimortos, mola hidatiforme, perdas medicamente indicadas — geram luto, vazio, dor e questionamentos existenciais profundos. No entanto, a sociedade raramente reconhece essas dores como legítimas, priorizando apenas a narrativa de alegria e nascimento.
Nesse contexto, o luto gestacional se torna silenciado — o que aumenta a vulnerabilidade emocional da mulher, muitas vezes sozinha com sua dor, sem rituais de despedida, sem espaço para lamentar, sem apoio familiar ou profissional. Isso contribui para que ela acumule sofrimento, culpa, vergonha, sensação de falha ou inadequação.
Com a recente sanção da Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, abre-se uma porta para que essas perdas sejam reconhecidas socialmente, acolhidas e legitimadas. Isso representa um avanço importante — mas o acolhimento psicológico ainda é essencial para viabilizar a elaboração de dor, ressignificação e reconstrução simbólica da maternidade.
A “mãe perfeita”: um ideal que adoece
Primeiro, porque o ideal cultural de “mãe perfeita” pressiona mulheres a viverem a maternidade como um palco de felicidade permanente — sem reconhecer medos, inseguranças, fadiga, tristeza, culpa, ou dúvidas.
Segundo, porque esse mito invisibiliza a complexidade da vivência materna: as transformações hormonais, emocionais, sociais; a quebra de identidade, os medos, as expectativas — tudo isso silenciado pela narrativa dominante.
Terceiro, porque a pressão social pode impedir que mulheres busquem ajuda quando precisam — por vergonha, culpa ou medo de serem julgadas. Isso aumenta a vulnerabilidade psicológica e perpetua sofrimento.
Portanto, desmontar o mito da “mãe perfeita” não é apenas um ato simbólico: é um passo fundamental para a saúde mental perinatal.
Como a abordagem da psicologia Gestalt pode contribuir (e o papel de Brunete Gildin)
Em primeiro lugar, a psicologia Gestalt privilegia a vivência integral da pessoa — corpo, emoções, história e contexto. No caso da maternidade perinatal, essa abordagem permite acolher o sofrimento sem julgamentos, reconhecendo o sentido singular da dor, da culpa, da perda ou da tristeza.
Assim, a terapeuta Brunete Gildin pode oferecer um espaço seguro para que a mulher expresse seus sentimentos, vivencie seu luto ou sua angústia, e elabore essas experiências de forma consciente e simbólica — o que é especialmente útil em casos de luto gestacional, depressão pós-parto ou crise de identidade materna.
Além disso, a Gestalt estimula a reconexão da mulher com seu corpo, com sua vitalidade, com seus desejos e valores — muitas vezes fragmentados durante a gestação ou o puerpério. Esse reconectar contribui para a reconstrução de uma identidade que vá além da função de “mãe perfeita”, favorecendo uma maternidade mais autêntica, integrada e saudável.
Por fim, a terapêutica gestáltica pode auxiliar na reconstrução de vínculos — consigo mesma, com o bebê (quando a criança nasce), com o parceiro, com a família — e na construção de novos significados para a maternidade: não como um ideal inatingível, mas como um processo humano, vulnerável, simbólico e transformador.
Por que precisamos ampliar a visibilidade da saúde mental perinatal
Primeiro, porque os dados revelam que a depressão pós-parto e a vulnerabilidade perinatal não são raras — elas atingem um número relevante de mulheres, variando de 10% até quase 40% dependendo da população e contexto. Isso mostra que o sofrimento perinatal é parte de uma realidade significativa e generalizada.
Segundo, porque muitas mulheres passam por perdas (gestação, nascimento, expectativas) invisíveis — como o luto gestacional — e essas dores precisam ser reconhecidas, acolhidas e elaboradas. A nova política de luto no Brasil é um passo importante, mas o acompanhamento psicológico é insubstituível.
Terceiro, porque o mito da “mãe perfeita” precisa ser desconstruído — para que a maternidade ganhe espaço para ser vivida com autenticidade, vulnerabilidade, humanidade e cuidado. Finalmente, porque a abordagem terapêutica — especialmente a gestáltica — pode oferecer caminhos profundos de cura, integração e ressignificação da experiência materna.
Psicóloga Clínica Online Brunete Gildin
Saúde Mental e Maternidade/Perinatal: Foco em depressão pós-parto, luto gestacional e a pressão sobre a mãe perfeita.
A maternidade pode ser, sim, um momento de alegria e realização — mas também pode trazer dores profundas, perdas invisíveis, transformações intensas e riscos à saúde mental. Ignorar essas vulnerabilidades é perpetuar sofrimento e silenciamento.
Por isso, o trabalho da psicóloga Gestaltista Brunete Gildin se mostra tão necessário: como espaço de acolhimento, escuta, elaboração simbólica e reconstrução de sentidos humanos para a maternidade. Se você sente dor, culpa, luto, tristeza ou confusão nesse momento, saiba que existe apoio, cuidado e possibilidade de cura.