Medo de perder o controle
Logo no início, cabe reconhecer que sentir medo de perder o controle é uma experiência humana comum, mas que, se persistente, pode comprometer a saúde mental e o bem-estar.
Assim, apresento-me: sou a psicóloga Brunete Gildin, e convido você a refletir comigo sobre este tema, especialmente relevante no contexto de profissionais que vivem sob pressão constante, como os professores.
Ademais, ao reconhecer o medo de perder o controle, abrimos espaço para compreendê-lo, nomeá-lo e iniciar estratégias capazes de restabelecer a sensação de agência.
O que significa “perder o controle”?
Primeiramente, “perder o controle” pode referir-se a diferentes camadas: a) o controle externo (circunstâncias, ambiente, relacionamentos), b) o controle interno (emoções, impulsos, pensamentos) e c) o controle existencial (sensação de autonomia sobre a própria vida).
Em seguida, quando o indivíduo percebe que tanto o ambiente quanto seu interior parecem escapar de seu alcance, surge o medo.
Em paralelo, a literatura aponta que a exposição contínua a situações de incerteza — como a constante cobertura de notícias negativas ou as demandas aceleradas de trabalho — alimenta esse tipo de temor.
Por exemplo, estudos mostram que a exposição repetida a notícias assustadoras pode gerar sentimentos de gelo emocional ou angustiar frente à sensação de impotência. Mayo Clinic McPress+1
Além disso, em profissões de grande carga emocional — como a docência — o medo de perder o controle pode se manifestar em ansiedade, irritabilidade, distanciamento emocional ou sensação de que “algo vai explodir”. Estudos com professores indicam prevalências elevadas de ansiedade e depressão. PMC
Por que o medo de perder o controle surge especialmente em professores?
Em primeiro lugar, para o profissional que ensina, a rotina traz múltiplas exigências: carga de trabalho, gestão de sala de aula, interação com famílias, mudanças curriculares e, muitas vezes, recursos limitados.
Logo, o cenário se torna fértil para a sensação de que “algo foge do meu alcance”.
Em segundo lugar, a literatura aponta que professores frequentemente convivem com elevada carga de estresse, exaustão emocional e desgaste — condições que favorecem a sensação de perda de controle. Frontiers
Em terceiro lugar, a pressão por resultados, pela avaliação, pela gestão de comportamentos e pela adaptação a novas formas de ensino também alimenta esse medo interno.
Acrescento que o trabalho em ambiente de incerteza (mudanças tecnológicas, pandemia, ensino híbrido) agrava ainda mais esse fenômeno.
Sinais de que o medo de perder o controle está se tornando prejudicial
- Logo no primeiro sinal: pensamento repetitivo sobre “e se tudo fugir do meu controle?”.
- Em seguida: sensação de inquietude, urgência, impaciência ou frustração crescente.
- A seguir: reações somáticas como tensão muscular, taquicardia, alterações de sono, dificuldades de concentração.
- Logo depois: comportamentos de fuga ou hipercontrole (monitorar excessivamente, evitar delegar, querer decidir tudo sozinho).
- Finalmente: impacto no trabalho, nas relações com alunos, colegas ou família — e risco de burnout ou esgotamento.
Notícia 1: A sobrecarga de informação e a sensação de falta de controle
Recentemente, reportagens destacam que o fenômeno do “doomscrolling” — rolar compulsivamente por notícias negativas — está associado a ansiedade existencial e à sensação de que o mundo está fora de controle.
Por exemplo, um artigo do The Guardian mostrou que muitas pessoas deixaram de acompanhar notícias porque “eu não tinha mais essa ansiedade”. The Guardian
Esse tipo de fenômeno reforça que não apenas eventos externos estão fora de controle, mas também nossa relação com eles — e que o medo de perder o controle pode emergir exatamente dessa dissonância entre o querer controlar e o perceber que não controla.
Notícia 2: A condição dos professores no Brasil
Além disso, uma reportagem da Agência Brasil apontou que 16% dos professores brasileiros afirmam que o ensino tem impacto negativo na saúde mental — parte desse impacto está vinculada à sensação de descontrole em sala de aula, disciplina e ambiente de trabalho. Agência Brasil
Dessa forma, o medo de perder o controle no contexto de professores não é puramente individual: ele está imbricado em sistemas de trabalho que frequentemente colocam o profissional à mercê de fatores difíceis de gerir.
Notícia 3: Escolas e o esgotamento emocional docente
Por fim, estudos divulgados apontam que as licenças por motivo de saúde mental entre professores no Brasil envolvem a dificuldade em retomar o controle sobre o retorno ao trabalho. PMC
Esse dado torna-se simbólico: o medo de perder o controle não se limita ao momento psicológico, mas reverbera nos sistemas institucionais — no modo como o retorno ao trabalho ou a manutenção do trabalho se dá.
Primeiro: onde Gestalt e Brunete Gildin se encontram?
A Brunete é uma das grandes nomes da Gestalt no Brasil, formada por Joseph Zinker, e trouxe uma pegada clínica muito própria, muito corporal, muito focada no fenômeno vivo da relação terapeuta–cliente.
Ela trabalha a partir de:
- presença radical,
- diálogo encarnado (o corpo como campo),
- ênfase no aqui-agora,
- contato como cura,
- criatividade terapêutica,
- e muita delicadeza com fenômenos emocionais profundos.
Então, Gestalt e a clínica da Brunete não são coisas separadas:
a abordagem dela é um aprofundamento clínico da Gestalt, com uma forte marca pessoal.
Como elas atuam juntas na prática clínica
Vou dividir em eixos para ficar bem claro.
1. Presença — não técnica
Na Brunete, o terapeuta não “aplica Gestalt”:
ele é presença, é encontro.
O foco é:
- estar com o cliente,
- sentir com ele,
- acompanhar o fenômeno como ele se dá,
- e deixar o processo emergir.
Isso é Gestalt puro, mas com um toque mais afetivo e poético.
2. O corpo como lugar de verdade
Brunete trabalha intensamente a percepção corporal:
- tensão
- respiração
- vibração
- gestos interrompidos
- microexpressões
Ela entende o corpo como narrador do campo: aquilo que a pessoa não consegue dizer, o corpo diz.
Na Gestalt, isso é chamado de awareness sensorial — estar consciente do que emerge no corpo.
Juntas, essas abordagens:
- ajudam a destravar emoções congeladas,
- trazem à tona gestalts inacabadas,
- facilitam insight de um jeito orgânico, não intelectualizado.
3. O aqui-agora como campo de cura
Tanto a Gestalt quanto a clínica da Brunete entendem:
O que importa é o que aparece entre nós agora.
Isso permite:
- trabalhar traumas sem forçar regressão,
- transformar o passado pelo modo como ele aparece no presente,
- acessar verdade emocional real.
Nada de ficar te explicando Freud ou interpretando símbolos do inconsciente — é um trabalho de encontro vivo.
4. O diálogo autêntico — sem personagem terapêutico
Brunete tem uma marca muito forte:
o terapeuta é pessoa real, que entra no jogo relacional.
Não é aquela terapia fria e técnica.
É quente, é presente, é humana.
A Gestalt já traz isso no “Eu–Tu” de Buber, mas Brunete deixa isso ainda mais encarnado:
- terapeuta se afeta,
- terapeuta se posiciona,
- terapeuta entra na dança relacional,
- mas sempre a serviço do cliente.
É uma relação transformadora.
5. Criatividade como recurso clínico
Com Brunete, a clínica pode incluir:
- movimento,
- experimentos,
- imaginação guiada,
- dramatização suave,
- metáforas espontâneas,
- trabalhos expressivos.
É uma clínica viva, onde a criatividade abre caminhos quando a fala trava.
6. Cuidar do campo: não é só o indivíduo
Isso é muito Brunete:
Ela olha sempre para o campo relacional:
- o que está acontecendo entre você e o terapeuta?
- como você organiza contato?
- quais padrões emergem?
- que figuras aparecem e desaparecem?
A terapia vira um laboratório vivo de relações.
Em que situações essa junção é especialmente poderosa?
- questões emocionais que ficam voltando, tipo ruminações e dores antigas
- conflitos relacionais (família, casal, amizade)
- experiências não digeridas do passado
- ansiedade e dificuldade de contato
- sensação de “desconexão de si”
- dores existenciais
- crises de identidade
- corpo que fala mais que a pessoa
- pessoas muito racionais que querem aprender a sentir
- processos de perda, luto, rupturas afetivas
- processos criativos travados
É uma abordagem gentil, profunda e transformadora.
Estratégias práticas para lidar com o medo de perder o controle
1. Mapa de controle útil
Imediatamente, liste em duas colunas: o que posso controlar e o que não posso controlar. Em seguida, delimite ações sobre aquilo que você pode controlar — e desapegue, ao menos por momento, daquilo que não pode.
2. Exercícios de aterramento e autorregulação
Logo ao acordar ou no intervalo do dia, respire profundamente: quatro em quatro segundos, por cinco ciclos. Assim, acione o sistema nervoso parassimpático e recupere sensação de centralidade. Além disso, pratique movimento leve ou caminhar por alguns minutos: o corpo auxilia a mente a recuperar o controle interno.
3. Limitação de estímulos de sobrecarga
Como apontado pelos estudos sobre sobrecarga de notícias, o excesso de informação exacerba a sensação de “não ter controle”. Scientific American+1 Portanto, defina horários específicos para checar notícias, desligue notificações e reserve um momento diário para desconectar.
4. Delegação e colaboração
No contexto profissional — por exemplo, no ambiente escolar — reflita: “o que eu deixo para si mesmo porque tenho que controlar? O que posso compartilhar, pedir ajuda, dividir?”
A psicóloga Brunete Gildin destaca que, muitas vezes, o medo de perder o controle revela o medo de delegar. E para que haja delegação saudável, precisamos de confiança e clareza sobre o que não está sob nosso único comando.
Benefícios de enfrentar o medo de perder o controle
Contudo, ao encarar esse medo, você abre possibilidades poderosas:
- Aumenta a flexibilidade psicológica — porque aprende que nem tudo está sob seu comando.
- Melhora a qualidade do autocuidado — porque identifica quando está tentando compensar o sentimento de impotência por hipercontrole.
- Amplia a capacidade de conexão com alunos, colegas ou clientes — porque a vulnerabilidade consciente facilita relação autêntica.
- Reduz o risco de burnout e esgotamento — pois a sensação de ajudá-lo pode tornar-se mais sustentável, equilibrada e integral.
Conclusão
Portanto, convidamos você, profissional da educação, da psicologia, da arte ou de qualquer área onde o controle parece imprescindível: aproxima desse medo com curiosidade e compaixão.
A psicóloga Brunete Gildin está à disposição para apoiar esse processo de redescoberta da sua agência interna, da sua narrativa simbólica e do seu bem-estar emocional.
Em síntese, enfrentar o medo de perder o controle não significa gerar todo o controle, mas aprender a viver de outro modo com o mistério do viver.
E lembre-se: “Medo de perder o controle” não é sinal de fracasso, mas de que algo em você deseja ganhar nova forma — e isso pode ser o primeiro passo para um novo modo de atuar, ensinar, cuidar e viver.